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Oi, BIRADS 4 C. Prazer, sou a Raquel Trevisan

1 de agosto de 2018
BIRADS 4 C

Se você identificou o que significa a sigla BIRADS 4 c, provavelmente já esteve na minha situação: com câncer de mama.
Sim! Fui diagnosticada há poucas semanas com um câncer inicial em minha mama direita.

Saber que temos essa doença terrível e que muitos evitam até mesmo falar o nome não é nada fácil. Mas acho que ler BIRADS 4 C em minha mamografia de rotina foi como abrir um precipício aos meus pés. Senti faltar o ar, tive náusea…

 

BIRADS 4 C

1ª mamografia: BIRADS 4 C

Talvez tudo isso seja porque você sabe que a sua vida vai mudar a partir dali. E para valer. E para o pior sentido que ela poderia mudar. Após o BIRADS 4 C, o futuro é realmente incerto, os planos e sonhos já não podem ser feitos nem a curto ou médio prazo. Você não sabe o que vai ser logo ali… É uma pausa na sua vida. Tudo o que você esta fazendo vai ter que esperar. Você vai indo pro limbo.

Para uma administradora que gosta de planejamento como eu, isso é quase uma tortura. Poderei viajar? Poderei dar aquela palestra tão sonhada? Perderei minha mama? Vai ser preciso fazer químio e ficar careca? Quem vai cuidar da minha filha? Como ficará meu casamento? São milhares de pensamentos. Certamente nenhum é positivo, pode ir por mim.

Enquanto não se tem o diagnóstico definitivo e conhecimento da real situação, a imaginação anda à solta. E no pior sentido. Mas confesso que a única coisa que em nem um momento pensei foi morrer. Isso nunca! Morro atropelada, mas não de câncer. Me recuso!

Técnica que me faz manter a calma

Em primeiro lugar depois da notícia do BIRADS 4 C, para ajudar a digerir tudo o que vinha na cabeça naquele momento, comecei a fazer cenários possíveis. Uma técnica de gestão que sempre me ajudou a ter calma e racionalidade nos momentos difíceis. Qual é o pior cenário? E o melhor? A prática me mostrou que nunca será nem um e nem outro.

Após exames com profissionais com zero empatia na minha cidade (isso vai valer outro artigo), veio finalmente o diagnóstico oficial através da biopsia: estou mesmo com câncer. De todos os cenários, o melhor (se é que isso é possível): carcinoma in situ. Ou seja, o “bicho” ainda tá encapsulado e não se espalhou. Ufa! Em três segundos a perspectiva de bom/ruim muda totalmente. Já dava pra abrir um vinho e comemorar.

Fui para um centro de referência em câncer de mama de Porto Alegre. Queria outro tipo de ajuda. E no meio de todo o medo, me senti pela primeira vez amparada. Existe empatia e agilidade na solução da sua situação! Ufa, de novo! E começa uma enxurrada de exames: outra vez mamografia e ultrassom de mamas, ultrassom de abdome e pélvico, densitometria óssea e de sangue. Consultas a fisioterapeuta, anestesista, cardiologista, psiquiatra, enfermeira… viram você do avesso. Detalhe: logo no início, já me deparo com a dura realidade ao perceber como somos seres frágeis e finitos.

Mastectomia Total

Quando você ler este artigo eu já terei me operado: mastectomia total. Sim, vão retirar minha mama inteira, pois a área afetada é muito grande apesar dos tumores serem minúsculos.

Não sei explicar direito o meu sentimento ao saber dessa noticia. É uma mutilação. Vão tirar muito mais que um pedaço do seu corpo. Para a mulher, a mama é simbólico. Mama é prazer, é estética, é sexo, é maternidade, é referência do feminino. Vão me tirar também movimentos (mesmo que por um tempo), minha independência e minha individualidade. Vou depender dos outros para tudo. Quem me conhece, sabe o que isso vai me custar.

Enfim, a minha batalha está só começando. Ainda não sei se vou precisar fazer químio ou radioterapia. Escrevo este artigo numa sala de espera. Várias conversas sobre o mesmo assunto: como o câncer chegou de surpresa na vida de cada uma. Como não havia sinais? O que se faz agora? Por que eu?

Pensei muitas vezes em não tornar isso público, não me expor… mas ao comentar com a Drª. Maira que várias amigas e familiares estavam indo fazer a mamografia depois do meu diagnóstico, ela insistiu que eu escrevesse. Certamente foi o cuidado com a minha saúde que me salvou!

Quero ajudar outras mulheres!

Meu sentimento é de ajudar outras mulheres a refletir. Quanto antes se descobre, mais chance se tem. Tenho a pretensão de fazer com que maridos sejam compreensivos se o diagnóstico vier para a esposa. Toda família adoece junto quando vem o diagnóstico, mas ninguém mais do que ela estará sofrendo.

Que fique claro que não quero pena, mas empatia. Comigo e com as milhares de mulheres que lutam contra o câncer. Não postei foto minha em preto e branco nas redes sociais falando de autoexame na semana da prevenção mesmo que eu já lidasse com a minha biópsia naquele período. Por isso, agora coloco minha cara a tapa, mostrando que câncer é real, é próximo e é cada vez mais frequente em mulheres até mais jovens do que eu.

Uma coisa quero dizer: não sou somente um peito! Sou muito mais do que isso. Vai ser difícil? Com certeza. Espero ter toda a força que os amigos dizem que eu tenho, mas é como disse uma prima: mostra quem manda neste corpo! E é isso que vou fazer acima de tudo! Mandar ele lutar e se curar. Vou cuidar do meu corpo, da minha alma, da minha “casa” que me levará até a velhice. É como eu já disse: morrer nunca foi um dos meus cenários.

Sistema BIRADS 4 C

Para quem não sabe o significa BIRADS, essa sigla ajudou a padronizar as análises dos exames. Em uma escala crescente de 1 a 5, em que o 5 é mesmo câncer. O nível BIRADS 4 C significa “alta chance de câncer”, e o C com números significa 50 a 95% de chance de ser maligno. Como resultado, era ali que eu estava: muuuuuita chance de ter câncer.
OBS: Se você se interessou (ou se preocupou) clique aqui e confira esse blog.